"Eu estava com a cabeça quente. Queria descansar, parar de pensar. Para
parar de pensar nada melhor que trabalhar com as mãos. Peguei minha caixa de
ferramentas, a serra circular e a furadeira e fui para o terceiro andar, onde
guardo os meus livros. Iria fazer umas estantes. As tábuas já estavam lá. Nem
bem comecei a trabalhar de carpinteiro e fui interrompido. Chegou quando chegou
a faxineira. Com ela, sua filhinha de 7 anos, Dionéia. Carinha redonda, sorriso
mostrando os dentes brancos, trancinhas estilo afro. O que se era de esperar
numa menina de idade dela era que ela ficasse com a mãe. Não ficou. Preferiu
ficar comigo, vendo o que eu fazia. Por que ela fez isso? Curiosidade.
Curiosidade é uma coceira que dá nas idéias...''(Rubem Alves - Curiosidade é uma coceira que dá nas idéias)
A garotinha Dionéia chegou e encheu Rubem Alves de perguntas. Mais do que natural este comportamento na idade dela. Aristóteles, sabiamente, nos diz em "Metafísica" que "todos os homens têm, por natureza, um desejo de conhecer"¹. E a infância é a fase onde esse desejo está mais presente.
Curiosidade. Os pais e professores se deparam com situações das mais diversas onde essa característica das crianças se faz presente. E como agir?
Os pais, muitas vezes, ficam assustados com certos questionamentos dos filhos e não sabem o que responder. O fato é que hoje vivemos num mundo globalizado, onde a informação nos chega de todos os lados, o que não é diferente para as crianças. Alguns segundos em frente a tv, ou navegando na Internet podem gerar perguntas das mais diversas.
Quando o assunto é sexo, por exemplo, os pais muitas vezes não se sentem à vontade e nem acham que está na hora da criança saber, mas um questionamento foi feito a eles e a criança quer um resposta. Numa reportagem da Revista Istoé, os psicólogos orientam ao pais que ajam com naturalidade e, a partir da cultura familiar e maturidade da criança, respondam ao questionamento dela sem passar a idéia de que sexo é algo vergonhoso.
Na escola, a curiosidade torna-se uma maravilhosa ferramenta de aprendizagem. O professor, como mediador do conhecimento, deve dar asas a esse desejo de conhecer característico das crianças. Isso, sem medo de ouvir perguntas difíceis de responder.
É nesse ambiente que os momentos de dúvidas e descobertas devem ser trabalhados. Tavares (1995), afirma que quando o educador permite que a curiosidade de seus alunos invada a sala de aula e faça parte de seu trabalho, ele está apostando em uma forma agradável de aprender e ensinar.
Edgar Morin (2000) em seu 'Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro', defende a importância de se permitir o livre exercício da curiosidade:
A educação deve favorecer a aptidão natural da mente
em formular e resolver problemas essenciais e, de for-
ma correlata, estimular o uso total da inteligência geral.
Este uso total pede o livre exercício da curiosidade, a
faculdade mais expandida e a mais viva durante a in-
fância e a adolescência, que com freqüência a instrução
extingue e que, ao contrário, se trata de estimular ou,
caso esteja adormecida, de despertar.
(Morin, 2000)
Infelizmente, apesar de sabermos que a curiosidade deve ser estimulada, não é bem assim que ocorre nas salas de aula. Como já dissemos aqui, o professor deve contribuir para que a criança pergunte, questione, tenha vontade de aprender e entender, porém, o que vemos são professores que jogam os conteúdos nas crianças e esperam que elas respondam a essa atitude tirando boas notas nas avaliações.
Estudar se torna uma atividade maçante, chata. Perde-se o prazer da descoberta. A sede de experimentar para entender se transforma em simples atos de decorar textos. E isso acontece também na educação infantil, não com textos,lógico, mas com pedidos de silêncio, de aquietação. A criança que questiona é vista como falastrona ou chata e a todo tempo é repreendida.
A motivação se perde nas páginas dos livros, a curiosidade morre nas respostas prontas dadas pelo professor.
Trabalhamos para que essa realidade mude, para que as crianças sintam por toda a vida o desejo de saber mais e mais, de descobrir o mundo que as cerca, pois, como já dizia o ditado popular: “A curiosidade é a mãe da sabedoria”.
Referências:
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Ed. Cortez,UNESCO, 2000.
TAVARES, Cristiane Tavares. O Respeito à Curiosidade Infantil. Comunicação e Educação. São Paulo, USP, vol. 3, pág. 112 a 114, set/dez 1995.
sábado, 11 de julho de 2009
A CURIOSIDADE É A MÃE DA SABEDORIA - Hipertexto
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