Errar é humano, todo mundo está cansado de ouvir/dizer isso. Mas até que ponto o erro é considerado como algo positivo e não como uma tragédia, algo inaceitável?
Vivemos na cultura do erro. Quando fazemos algo de bom não somos tão destacados quanto quando fazemos algo errado. O erro é sempre - ou quase sempre - mais evidenciado do que o acerto. Uma criança que tira nota 9,0 por ter acertado 9 de 10 questões de uma avaliação, por exemplo, se prende muito mais à única questão que errou do que as 9 em que obteve sucesso. E a que isso se deve? Será que o erro está sendo trabalhado corretamente nas escolas?
Primeiramente, vamos pensar um pouco sobre o seguinte questionamento: Errar é necessário para que a aprendizagem ocorra?
Não necessariamente, não é verdade? Eu posso aprender algo sem ter que errar antes. Nem sempre o erro é o caminho para o acerto. Qualquer um pode entender e aprender algo de primeira, vai depender das suas habilidades, do seu amadurecimento cognitivo e da situação em que a aprendizagem esteja sendo desenvolvida.
Contudo, o erro se faz presente todos os dias na sala de aula e ele pode e deve ser trabalhado para que ceda lugar ao acerto. O erro, quando ocorre, é uma porta aberta para a extinção das dúvidas. Entretanto, tudo depende da forma como esse erro é visto.
Será que, por exemplo, o costume tão arraigado na prática dos professores de corrigir o erro mostrando no quadro a forma correta é suficiente para fazer com que aquela criança aprenda aquilo que não conseguiu anteriormente? Nem sempre, partindo do pressuposto de que nossas salas são heterogêneas e cada um tem a sua forma de aprender. Não podemos simplificar, homogeneizar e fazer de conta que todos aprendem ao mesmo tempo, no mesmo ritmo.
O professor, infelizmente, acredita nisso. As escolas acreditam muito mais. E aí tomam o erro como algo abominável - apesar do discurso bonito e construtivista que os gestores apresentam nas reuniões de pais e mestres, afirmando que a instituição faz do erro mais uma situação de aprendizagem -, basta acompanhar a correção da atividade de casa...
"Você errou!", falam os professores. "Isso é no que dá conversar na hora da aula!", justificam. "Apague e coloque a forma certa!", ordenam. Mas, será que esse educador se preocupou com o processo de realização daquela questão? Como será que a criança desenvolveu seu raciocínio para chegar àquela resposta? E o que ela conseguiu fazer não merece ser valorizado?
O que acontece é que o professor não consegue lidar com a falha, pois há por trás dele pais, coordenadores e diretores que cobram dele a responsabilidade de ao final do ano passar para o ano letivo seguinte crianças preparadas, desenvolvidas e campeãs do acerto. Além disso, o profissional não aceita que aquele erro pode ter sido fruto de uma metodologia ruim, de algum erro seu. É, o professor nem sempre aceita o seu próprio erro. Claro, na nossa cultura devemos acertar sempre e assim formamos crianças com dificuldade em enfrentar frustrações e perdas.
O erro é algo natural, que, apesar de não ser necessário para a aprendizagem, ele acontece e deve ser encarado como mais uma oportunidade de aprender, como uma forma de reforçar algo que não ficou claro e do professor repensar a sua prática.
É triste ver uma criança desmotivada, que desvaloriza as suas produções e passa a se sentir um incapaz. Mais triste ainda é vê-la desconsiderar todo um caminho de acertos por conta de um erro apenas. Tiremos o erro do lugar do monstro e façamos dele uma ferramenta valiosa de construção em nossas salas de aula. E, mais importante, respeitemos o ritmo dos nossos alunos. A Educação agradece!
Por Laís Assis